Passeio Penitenciário:
Hoje fui à Penitenciária Feminina de Santana com meu pai e seus colegas do Conselho Penitenciário do Estado. Fui esperando um lugar horrível e triste. Esse era o relato que nos tinha feito uma das conselheiras. Achei que ia ser um dia forte, um grande choque de realidade, sei lá.
Chegando lá me deparei com uma fachada do início do séc.XX, bem arrumada. A parte da administração era bem organizada, e até meio pomposa: quadros antigos, tapetes, uma enorme mesa de madeira maciça com cadeiras estofadas de vermelho, e um grande lanchinho servido para nós. Achei que isso não passaria de uma deformação no estilo por fora boa viola, por dentro pão bolorento.
Passamos e fomos direto a uma das áreas de trabalho, depois a muitas outras, entre elas as meninas faziam artesanato, tapetes de palha, peças de relógios de água ou energia (não sei), talheres de plástico, roupas etc. Ficamos meio entrigados com a situação de trabalho e fomos perguntar: as empresas que contratam as detentas lhes pagam um salário mínimo, mas não assinam carteira de trabalho e nem fornecem os direitos trabalhistas, de cada três dias de trabalho se desconta um da pena total. Elas não podem ficar com o dinheiro, já que não há (ou não deveria ter) comercio dentro do sistema carcerário, 10% vai para o rateio que paga as meninas que fazem a limpeza e cuidam da cozinha, 25% pra poupança,que elas só podem abrir quando cumprirem a pena, e o resto elas podem mandar para parentes fora. Das 2700 detentas, metade trabalha, um terço delas está matriculada em uma escola na penitenciária, que me pareceu legalzinha.
As celas eram muito pequenas, 2m x 3m, mas eram divididas por apenas duas detentas, ou seja, sem super lotação. Cabia as coisinhas delas, mas quase não dava pra se mexer. Também não pudemos ir até as celas ocupadas, só fomos a uma que servia de posto de saúde de um pavilhão. A comida era toda feita lá, e eles tinham uma horta... foram as maiores panelas que eu já vi, tinham uns dois metros de diâmetro, por um de altura. Tudo e era meio nojento, sem muitos cuidados apesar de todas estarem de touquinha... rs... sei lá o cheiro era bem ruim, meio enjoativo. Toda a parte da enfermaria era bem equipada, limpa e organizada, tinha até um consultório odontológico. Parecia bem até o diretor da unidade me falar que havia somente 3 médicos plantonistas e dois voluntários para cuidar de todas as meninas. É foda, não tem condição. Imagina 5 pessoas cuidando de 3 mil?!
O pátio era muito grande, ensolarado, mas não havia ninguém nele na hora que passamos lá.
Na área de inclusão (onde ficam as novas detentas) foi onde vi uma cadeia mais depredada, paredes bem deterioradas, varias meninas na mesma cela, mas ainda assim limpo...em toda a visita não vi uma bituca de cigarro no chão.
Segundo o diretor, a principal necessidade da Penitenciária é a contratação de funcionários, que esta defasada em oitenta pessoas, em relação as previsões legais. De ruim também eram os cinco enormes andares que elas tem de subir de escada sempre que vão para as celas.
De curioso foi saber que o Drauzio Varela faz atendimento voluntário lá todas as segundas-feiras. Ele é um dos três médicos voluntários que eu falei.
O que levei dessa experiência: levei uma tristeza grande...conversei com algumas das detentas, e é visível que o Governo do Estado tem para com elas um desinteresse tamanho, os processos são lentos e confusos, e os defensores públicos poucos para a demanda. Que as penas são desumanas, são enormes por coisas nem sempre tão grandes. Várias delas não deveriam estar ali, e sim na rua. Da vontade de chegar no pátio e falar: Meninas, arrumem as suas coisas e vão embora, todas têm uma segunda chance. Tratem de não aprontar! Sei lá, ta tudo bem errado. As instalações eram boas, não sei se conseguiria pensar uma penitenciaria melhor, acho que o sistema prisional que está errado mesmo. Mesmo nesse lugar, onde o clima era bem tranqüilo, percebesse que elas não estão lá para ser reeducadas como diz a legislação, e sim para sumir do mundo, da vista dos que mandam ($$$).
Foi isso acho...
ouvindo: Ella y El - Ricardo Arjona
Ana.
terça-feira, 29 de abril de 2008
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Ana.
às 22:18
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